Distraindo-se com a culpa coletiva
É bem provável que você se depare com certa frequência com frases como:
“A humanidade está cada vez pior.”
“O ser humano está poluindo o planeta.”
“A situação não está fácil para ninguém.”
“Lidar com o ser humano está cada dia mais difícil.”
Todas as frases acima possuem um aspecto bem real e verdadeiro, porém aprofundar-se nelas da maneira literal dificilmente resultará em alguma solução, mas apenas em um coro cada vez maior de concordância com tais afirmações.
O foco no coletivo
Quando o foco está no coletivo, a mente entende que a responsabilidade pessoal é muito menor do que ela realmente é. Isso acaba enfraquecendo qualquer decisão mais séria de encontrar uma solução.
Como eu disse no post “Eu ou nós – por que usamos um ou outro?“, ao utilizar frases com o pronome “eu” você acaba dando mais atenção ao assunto e entende a responsabilidade como sua.
Ao mesmo tempo, quando você utiliza o pronome “nós”, sua mente entende que a responsabilidade não é apenas sua.
E apesar de até prestar atenção no assunto, sua própria mente não estará tão animada em encontrar uma solução, exceto se for algo no qual há um grande interesse pessoal envolvido, como por exemplo, a finalização de uma tarefa.
No livro “O problema do sofrimento”, C. S. Lewis resume a questão de uma maneira simples e direta.
A culpa conjunta talvez não possa ser, e certamente não é, sentida com a mesma força que a pessoal. – C. S. Lewis
O “x” da questão
As culpas pessoais incomodam.
Machucam.
Doem.
É muito desagradável conviver com atitudes equivocadas do passado que ocasionaram resultados ruins ou péssimos. Por isso, muitas vezes utiliza-se como argumento algo que faça parte da culpa coletiva, que proporcione um certo alívio à consciência e justifique (mesmo que de maneira irrelevante) os próprios atos.
A grande questão é que utilizar-se desses alternativas além de não solucionar o que é possível ser resolvido, acaba sendo também uma maneira de fugir do assunto real.
Além disso, muitas vezes o acontecimento pessoal é lembrado até em detalhes, mas apenas os argumentos relacionados com a culpa coletiva são verbalizados.
Apesar de parecer contraditório, essa não seria uma atitude negativa, pois assumir publicamente os erros não é fácil, mas a partir do momento em que os erros estão claramente expostos na mente, por que não procurar soluções para eles em vez de continuar insistindo em justifica-los através da culpa coletiva – hábito que jamais resolverá tais erros?
Procurando soluções
Voltando às afirmações iniciais do post, não há como negar que são bem reais, porém, o que cada um de nós está fazendo para mudar tais situações?
“O ser humano está poluindo o planeta.”
Sem dúvida essa é a triste realidade, mas não seria de maior utilidade tomar atitudes como reciclar mais, consumir de forma consciente, descartar o lixo em locais adequados (e não em ruas, áreas verdes ou córregos) do que simplesmente falar que todos nós estamos poluindo o planeta e não fazer o que é possível para minimizar os danos?
“A humanidade está cada vez pior.”
Com tanta corrupção, egoísmo, violência, ganância, etc, essa também é a realidade, mas se cada um de nós fizer a sua parte, o mundo não pode tornar-se um lugar mais pacífico e altruísta?
“A situação não está fácil para ninguém.”
Para muitos, talvez a maioria, a situação de vida nunca foi fácil, mas afirmar que para todos a vida está ruim parece exagero.
Há tantas pessoas bem-sucedidas no mundo, pessoas criativas, pessoas cujos inventos tornaram a vida muito mais confortável do que há 50 anos.
Imagine por um instante, como seria a vida hoje, em plena pandemia, sem serviços online ou aplicativos de mensagens instantâneas.
Como seriam as filas nos bancos para pagamento de contas?
Não consigo imaginar pessoas como Warren Buffett, Bill Gates, Elon Musk, entre outros, dizendo que a situação não está fácil para ninguém.
Para algumas pessoas as coisas são realmente mais fáceis, pois nasceram em famílias com melhores condições financeiras, mas quantos não conseguem destacar-se apesar das dificuldades?
Gosto muito de uma frase de Mário Sérgio Cortella:
Faça o seu melhor, na condição que você tem, enquanto você não tem condições melhores para fazer melhor ainda. – Mário Sérgio Cortella
Não é melhor fazer algo útil, caminhar rumo aos seus objetivos do que crer que as coisas são difíceis e não fazer nada para modificá-las?
Conclusão
A culpa coletiva, apesar de apresentar muitos argumentos válidos, acaba por desmotivar e nivelar todos por baixo, pois tenta acalmar a consciência em relação aos erros e atitudes humanas que podem ser modificados para melhor.
Assim como as engrenagens de um relógio, se cada um fizer a sua parte, as coisas tendem a funcionar de maneira mais adequada e produtiva.
Não é por que todo mundo faz, que esse é o melhor modo de agir.
Quanto mais você procurar maneiras de melhorar em vez de meios para justificar o que não fez, mais crescimento alcançará e dessa forma, menos tempo deixará disponível para pensar na culpa coletiva, pois terá entendido que você é o único responsável por seus atos e que talvez a única vantagem da culpa coletiva seja demonstrar o que cada um de nós precisa fazer para que o mundo seja realmente um lugar melhor para todos nós.
Créditos das imagens: Gerd Altmann e OrMaVaredo – Piixabay
Comentários
Postar um comentário