Excesso de zelo também faz mal

No post Harmonia, a chica escreveu um comentário do qual selecionei um trecho:

” Precisamos de harmonia em tudo, equilíbrio e paz.
Mas numa das imagens apesar de tudo revirado, vejo uma harmonia que dá felicidade…
Quando nossa casa está cheia de brinquedos, sinal que crianças por perto e com elas VIDA!
Quando tudo muito arrumado, fica como EXPOSIÇÃO! “

Como o objetivo do post era comparar um local organizado com um bagunçado, achei que a imagem abaixo seria a ideal.

 

ilustração casa bagunçada nem sempre é falta de zelo

 

Porém, a chica notou algo que não reparei com mais atenção: os brinquedos.

Onde há brinquedos, há crianças.

E onde há crianças, há vida!

Penso que os brinquedos precisam ser guardados após a brincadeira, mas muitas vezes há tanta cobrança nesse sentido e também para que se tome muito cuidado para não quebrá-los, que a diversão acaba sendo prejudicada. Assim como a espontaneidade e a criatividade da criança.

Isso quando os brinquedos não são guardados apenas para momentos muito especiais.

O que se esquece é que o tempo passa.

E logo aquele brinquedo tão desejado já não fará mais tanto sentido para a criança – para a mesma criança que poderia ter sido tão feliz ao poder brincar com ele em seu momento ideal.

 

A casa que não era utilizada

Quando eu era criança, visitei algumas vezes uma casa que eu achava bem diferente.

No terreno havia uma edícula e a casa principal, a casa da família, na frente.

Todas as atividades eram feitas na casa dos fundos: café da manhã, almoço, jantar, assistir televisão, estudar.

A casa da frente, pelo que eu entendi, era usada para dormir.

Uma vez entrei lá e pensei: “A copa e a sala são tão bonitas! Por que eles não passam mais tempo aqui?”

Ouvi alguém dizer que os pais preferiam assim, pois as crianças faziam muita bagunça.

De minha parte, eu achava tudo isso bem inusitado, pois para mim os bens materiais estão aí para serem utilizados.

Porém, agir assim fazia sentido para eles. Eram felizes.

Então, não há o que argumentar. Para eles fazia sentido.  E isso é o que importa.

 

O excesso de zelo na vida

Quando os pais têm um zelo exagerado, os filhos acabam seguindo por esse caminho, pois assim aprenderam com seus heróis da primeira infância.

Ser perfeccionista é apenas uma das facetas do zelo aprendido.

Se algo não sai conforme o planejado, se alguns detalhes mínimos não ficaram de acordo, o desânimo, a frustração e/ou a raiva aparecem.

A pessoa acaba se cobrando e se culpando demais durante toda a vida se não aprender a se desapegar da perfeição esperada – e que nunca será alcançada, pois a imperfeição é uma das características inerentes aos seres humanos.

O excesso de zelo torna a vida pesada.

Claro que ninguém gosta de estragar ou quebrar os objetos comprados – muitas vezes com tanto esforço e em várias prestações. Mas quando ocorre um acidente, de que vai adiantar ficar se culpando tanto?

 

Diga adeus às cobranças desnecessárias

Eu já me cobrei muito. E me culpei muito também.

O que ganhei com isso?

Nada de bom.

Muito pelo contrário, a enorme, pesada e desagradável sobrecarga emocional resultaram em estresse e ansiedade, que por sua vez acabaram impactando a saúde e a qualidade de vida.

Hoje eu procuro me cobrar menos.

Não é fácil, pois o hábito quase sempre fala mais alto.

Mas com o tempo, novas sinapses cerebrais são criadas.

E como resultado do “rearranjo mental”, muitas vezes fico até perplexa em relembrar de vários momentos em que permiti que a emoção assumisse as rédeas da minha vida ocasionando tanto estresse desnecessário.

Hoje procuro não olhar para as situações estressantes ou ruins do passado com culpa, mas sim com a consciência de que se eu soubesse o que sei hoje, teria feito tudo de maneira diferente.

Sempre me culpei muito pela morte dos meus cães.

Sempre acreditei que isso ocorreu por eu ter feito algo errado, por não ter feito algo que deveria ter sido feito. Por agir com negligência ou imperícia. Era uma culpa esmagadora.

Há algum tempo, menos de 1 ano, comecei a perceber que, de acordo com o que eu sabia, eu havia feito – e continuo fazendo – o meu melhor: médicos, medicamentos, especialistas, exames, mudança na alimentação, inúmeras pesquisas na internet sobre as doenças, tratamentos naturais que podem auxiliar na cura, enfim, eu faço o que acho que pode dar certo de acordo com meu conhecimento, experiência e conversas com os veterinários.

O caminho para me libertar da culpa é longo. Ainda estou no início do processo, mas já percebi uma grande melhora. A carga mental nesse sentido tem se tornado menos pesada. Mas isso é assunto para um outro post.

Se antes eu compreendia o perfeccionismo como algo bom, hoje penso de outra maneira: quero fazer o meu melhor e encarar os erros como parte da jornada. Sem excesso de cobranças. Mas também sem negligência, sem deixar de fazer o que precisa ser feito.

 

Ilustração com a frase: Fazendo download do futuro. Aguarde. Ou cancele.

 

Equilíbrio

Não somos perfeitos.

Podemos ser bem organizados e zelosos.

Mas sem exageros, como ocorre quando nos irritamos com um quadro levemente torto, um copo em cima da mesa após um dia de trabalho, uma peça de roupa em cima da cama ou um brinquedo deixado no chão.

Vale a pena esse tipo de irritação? Definitivamente não.

Coisas assim não deveriam – e não devem – prejudicar a nossa paz interior.

Afinal de contas, uma casa onde as coisas não estão sempre no mesmo lugar, é uma casa onde há vida.

Onde há movimento.

Onde há realização.

Onde há lagrimas e problemas, mas onde também há superação, vitórias e alegrias.

E afinal de contas, não é exatamente isso o que a gente quer?

 

Créditos das imagens:  Pixabay

 

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