Deterioração mental e intelectual

Há algum tempo ouvi pela primeira vez o terno "brain rot", que significa deterioração mental e intelectual causada pelo excesso de exposição a conteúdos superficiais, como vídeos curtos.

Sobrecargas recordes e recorrentes

Uma vez eu li que a quantidade de informação contida em uma única edição de domingo de um jornal como o The New York Times do início do século 21 seria comparável a toda a informação que uma pessoa receberia durante toda a vida na Inglaterra do século 17.

Durante toda a vida. 

Você já parou para pensar sobre isso?

E hoje, segundo estimativas baseadas na Curva de Duplicação do Conhecimento de Buckminster Fuller e projeções recentes, o conhecimento global está dobrando a cada 12 horas. 

Você consegue imaginar esse cenário?

A grande questão

Será que estamos preparados para tudo isso?

Ao meu ver, não. Não estamos.

Nos sentimos cada vez mais cansados.

Sem paciência.

Os casos de ansiedade, depressão insônia e outros problemas de saúde aumentam a cada ano.

Achamos que o tempo está passando rápido demais.

Mas, será mesmo que é o tempo que está passando rápido demais ou será que somos nós que estamos ocupados demais?

Onde tudo isso vai parar?

Considerando a situação atual e como tudo se desenrolou até aqui, não parece haver sinais de melhoras à vista.

E vou usar meu próprio exemplo: me sinto cada vez mais cansada mentalmente. 

Tão cansada minha mente está que não tenho mais ânimo para ler livros. Começo e logo desanimo. Ou leio e não absorvo o conteúdo como antes - às vezes logo esqueço o que li.

Gostava de ouvir podcasts e audiobooks até o ano passado. Mas agora, meu cérebro pede silêncio.

Mas tudo parece tão inocente, tão divertido...

Desde as figurinhas fofinhas, as frases curtas de impacto até vídeos de reflexão, emocionantes ou engraçados, tudo isso exige algum processamento cerebral.

Se fosse um por dia, tudo bem.

Mas não é apenas um.

São vários, muitos, inúmeros. Até centenas para algumas pessoas.

Mas, o cérebro não está preparado para tudo isso!

Locus Coeruleus

Há muito tempo ouvi a neurocientista Rosana Alves falar que essa pequena parte do cérebro é ativada somente em casos muito específicos, que são as situações de novidade e medo.

E que com o uso excessivo do celular, o locus coeruleus está sendo ativado de forma contínua e a ciência ainda não sabe as consequências dessa ativação frequente.

Há pouco tempo, ouvi o psicólogo Rafael Costa falar que quando você está sentado e vendo algo no celular, apesar do repouso do corpo, imagens de ressonância magnética mostraram que há uma intensa atividade cerebral - como se já não bastasse o trabalho que exige cada vez mais do cérebro também.

Se no meu celular eu já deixava desligado o carregamento automático de mídia, agora mais ainda vejo a importância dessa opção.

Alguns eu vejo, pois são de pessoas queridas, de amigos e colegas bem intencionados, mas que ainda não fazem ideia do quanto isso pode ser prejudicial ao cérebro - apesar de serem coisinhas fofinhas, bonitinhas e aparentemente inocentes.

Voltando à deterioração mental e intelectual

O termo é forte.

Forte demais para uma sociedade com tecnologias tão avançadas que estão disponíveis para facilitar a vida. Parece até incoerente, não é?

Penso que o problema não é a tecnologia em si, mas o uso que fazemos dela.

Tudo é planejado para ser muito bonitinho e agradável para que cada um de nós prefira passar a maior parte do tempo possível no app.

O tempo é desperdiçado. Quem nunca se arrependeu de ficar nas redes sociais mais tempo do que achava que deveria?

Além do tempo, parece que algo mais está em risco - a saúde cerebral e mental.

Então, eu te pergunto: será que tudo isso está mesmo valendo a pena?

Créditos da imagem: Pixabay